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1 de abr. de 2021

Uma Mulher Boa que as Pessoas Morrem de Medo

 

                    
Foto: J. Haglund


A vida não é dádiva

É dúvida, dívida;

Dividida com os ratos

Reinada nas trevas

Quem teria dádiva

Ao viver nessa mísera praça?

Você acha que minha irmã se prostituiu por vontade ou graça?

A vida não é nada

Se você não tem amor, nem arroz.

Quem traz luz são fadas ou pedras?

Ao viver nesse horrendo cercado

Você acha que tenho obrigação de viver feliz?

Quem sente gratidão por estar no inferno desde cedo?

Molhando toda vez que chove

Raspando panela em silêncio para que ninguém ouça

Sendo xingada e distratada pelos carros,

Invisível como um vírus, insuportável como estrume fresco

Vivendo cada dia como se fosse o último

Há dez anos sem um abraço, há cinco anos sem aborto

Uma mulher boa que as pessoas morrem de medo. 

(Leo Canaã)

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