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19 de out. de 2011

Pequeno Cotidiano Comum


Vejo tantas pessoas viverem o presente em estado permanente do passado, com aquelas crendices todas que alguém, por algum interesse, vomitou com domínio sobre a cabeça e facilmente foi aceito; acreditando ser possível viver de um passado comprovadamente desastroso, virtual e dedutivo. Fielmente marcado por linhas de pensamento fajutas que justificam ou seguram os últimos tijolos da sua vida. Rigorosamente fechadas aos fatos que comprovam o óbvio, se iludindo de forma fundamentalista em verdades tão evidentemente desprovidas de senso. Famintas por algo ou alguém distantes, muitas vezes sem forma, sem cor, sem nome ou até vida.

Compreendo a ilusão marcante necessária para que as pessoas segurem firmes e possam levar seus filhos à escola, chegar alegremente ao trabalho (aparentemente), comer calmamente sua porção orgânica da vida, amamentar e ser amamentadas, realizar reuniões ou dar aula, passar no supermercado, voltar pra casa, dar comida para os filhos, ver o jogo de futebol da quarta-feira, fazer sexo e dormir.

A necessidade de se segurar em algo ou alguém é tamanha, que todo o desconforto da vida se resume no momento em que elas estão nuas no banheiro ou sozinhas em casa. Sentem, sem querer sentir ou pensar, o vazio confortável e passivo que levam, tratando tudo em Banho - Maria . Ainda sim, são contundentes em suas análises  da concepção da vida ou do sistema capitalista, se sentem revolucionárias dentro de suas caixas de sapato, se acham espertas e abertas ao novo e as diferenças, acreditam fielmente no ecodesenvolvimento!
Todo este bolo, esta receita tétrica de infelicidade disfarçada, que só não desmorona (ainda) porque se tem 03 filhos pequenos a cuidar e até que eles fujam ou sigam o caminho como todos nós fazemos, restará uma ponta de utilidade na vida, de conformismo com a mentira, de vaidade por suas idéias, de orgulho com seu modo de vida e com sua rebeldia... Rebeldia de Poliana!

A visão de mundo que sempre pareceu ampliada e diferenciada, nada mais é que uma visão  colonizada, doada como balinhas de hortelã de troco, escondida em algumas folhas de alface, na avareza com que os mínimos centavos são contados para o fechamento do mês e na forma como vê o próximo, como um incômodo. Não acredita ser possível que pessoas  possam gostar de Calypso.

Entretanto, os mínimos detalhes passam despercebidos como os garis que limpam a praça municipal ou os pedidos calmos e pacientes da sua mulher  que quase sempre nunca são ouvidos, ou mesmo os problemas sociais e ambientais ocasionados pela mineração em cidades próximas. Claro, que, entre amigos, para reforçar a sua autenticidade e marcar seu lugar em um grupo moderno de pensadores ambientalistas, expõe os detalhes ocorridas pela mineração com propriedade e ao mesmo tempo é completamente a favor do início do Manejo Florestal madeireiro na Floresta Nacional do Apodí. E a vida, se torna uma aeronave que viaja pela madrugada em tempestade com os sinalizadores marcando 40.000 mil pés e que, na realidade, está a um palmo de tocar o mar.

É difícil pedir algo de alguém, sem nunca ter recebido. É como pedir para redigir um texto de 400 linhas a quem nunca foi à escola; ou ver a beleza da vida, do céu azul deste dia, a quem nunca olhou para o céu, mas para a lata de lixo no chão. Acredito que, se as pessoas tivessem um poder a escolher, um poder supremo; escolheriam que todas as pessoas fossem como ela, a própria semelhança.

CRUIS!