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19 de abr. de 2011

Diálogos a beira do Rio

" (...) 

- Tudo está em nossas mãos, José. Nós nos perdemos por covardia. O que mais gostamos dessa vida são nossos hábitos. As insignificâncias tem tanta importância que agente se perde.

- Vejamos os fatos... A coragem não necessariamente põe pão na mesa. E alguns hábitos são maiores que a própria vida Chico.

- Você, José, é um homem pusilânime, conformado com tudo. Não é capaz de nem ao menos de assumir aquela tua filha que teve em Porto Acre...

-Ora, Chico, nunca melhorarás um homem se o repelires; além do mais, os fatos comprovam que você não é tão diferente de mim assim. As suas idéias são ótimas. Mas não importam. O que importa é que se faz não o que se pensa.

- Como se eu não procurasse ser de fato aquilo que penso não é José?
A diferença é que você não tem consciência, não sofre reconhecendo o seu erro e nem tenta. 

-Os homens meu caro Chico nunca mudarão e você perde tempo de tentar  mudá-los. E além do mais está me julgando de forma parcial. Tens muitas opiniões preconcebidas. As convicções são mais perigosas e danosas que a própria verdade.

- José, cada um pensa em si próprio e vive mais alegre aquele que engana a si mesmo.
-Chico, o que se pode aprender com uma vida miserável destas meu amigo?

-Cada um de nós José precisa de muito pouco para viver. Basicamente, um bocado de pão, uma mulher honesta e amável e um trabalho que não seja infernal. 

"(...) Chico e José continuam a conversar e se despedem. Se dispersam entre as pessoas que caminham no calçadão a beira do rio. Percebem, cada um da sua forma;  os jovens que retornam as casas após a escola, os taxistas parados a espera de viajantes, a ralé que se embriaga às margens, os meninos que pulam da ponte, os balseiros presos as vigas de concreto dando trabalho aos bombeiros, o casal que namora na porta de entrada, o banco vazio em que os dois conversavam, os comerciantes e sua ânsia de ganhar dinheiro e ao longe uma pequena canoa que sobe o rio, cheia de bananas, com um casal jovem e uma filha recém nascida coberta com uma manta branca". 
( Leo Canaã)