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29 de fev. de 2020

Bem Blusão Bão #3

Capa do CD

Chegando com a coletânea pessoal "Bem Blusão Bão" em sua terceira edição com 18 sonzeiras de  artistas novos e consagrados tocando o melhor do Blues na atualidade. 
Estão presentes na coletânea: Sandy Ross, Simon Kinny-Lewis, Van Morrison, Jamell Richardson, Joe Percy, Jerimiah Marques, Cristone "Kingfish" Ingram, B.B & The Blues Schakes, The Nick Moss Band, Eric Clapton, John Hiatt, Richard Finley e Watermelon Slim.
Munição Sonora Já!

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21 de fev. de 2020

Púrpura Íntegra

Foto: N/A

Em um início de divã, Fátima retira do bolso da calça um pedaço de papel e inclinando a cabeça levemente para a esquerda, onde estava seu médico terapeuta, diz secamente – “Hoje vou ler meu escrito diário e será só isso a sessão”. O médico, sem nada dizer, olhando para baixo, balança a cabeça positivamente à paciente, que imediatamente começa a leitura.

“Queria estudar, enlouqueci. Queria amar, sofri. Queria voar, submergi. Que quentura ainda existe nessas veias? Que calor, oh senhor, será capaz de iluminar as trevas e os curdos? Quais os planos de conquista, acumulação para amanhã?
Queria sonhar, violentaram-me e sorri. Queria tocar o céu, desisti de Deus. E agora, púrpura, já consigo sair de casa, escovar os dentes, responder aos recados de amigos e vendedores, pegar no sono, ver os infernais, passear por Paraisópolis e trocar três contos com qualquer alma viva ou morta.
Mas, que aventura pode existir depois da curva da monotonia? Logo advém de graça, como uma cobertura de um sorvete, o pavor, oh senhor, o pavor da dúvida, de ser capaz de relativizar mais uma vez ás pressas, quitar os juros de empréstimo para usar minha HP-12 C, as metas a serem dominadas e reembolsadas em minha conta e que não levarei para minha cova e uma gama enorme de pessoas sofridas (e muito) pelas calçadas do mundo.
Queria tocar o céu, e agora púrpura, feliz por levantar da cama, comer ovos mexidos, o café enviado de minas, o cigarro aceso, o rapé, o cabaré e a grana do contrato... tudo de forma objetiva, escalonaria e obsessiva: no melhor jeito de ser humano!
Queria encontrar os olhos do meu médico, nestes 5 anos em que toda a semana, uma vez por semana, tenho que pegar três ônibus e cruzar esta cidade maldita, na esperança ridícula de que algum dia iremos ter o encontro mágico dos olhos! Quem precisa de tratamento? Estou curada, isso mesmo, já estou curada. Já consigo sorrir e ser cordial com todos, principalmente com meus agressores. Não tem uma frase mais ou menos assim, de que, quem é feliz é aquele que engana a si mesmo?”.

Ao terminar a leitura, Fátima se levantou, olhou predestinadamente para a porta sem atentar-se para o médico, abriu a mesma sem fechar, deixando os raios do sol de primavera adentrar com sua tonalidade lilás pela vidraça cristalina da antessala, enquanto o médico, preso a um caderno ou uma leitura em sua cadeira confortável, mexia rapidamente os óculos e dava um leve sorriso, com a cabeça inclinada para baixo, atento ao que via ou lia, até que pelo aparelho telefônico, falou para sua assistente: Quem é o próximo?                                                                                                             
 (LEO CANAÃ)                                                 

13 de fev. de 2020

Kiko Dinucci - Rastilho [2020]

Capa do CD


Fazia um tempão que eu tava a fim de fazer um disco dedicado ao violão.

Na infância, explorei como brinquedo. No começo da adolescência, com o violão remendado com tiras de durex, tentei nas mais variadas afinações reproduzir riffs de rock pesado. No fim da adolescência, nas rodas de samba onde alguém pedia um ré menor e saia cantando algo que eu nunca tinha tocado na vida, me forcei a encontrar cadências e intervalos no susto. O violão chegou primeiro e sempre me acompanhou.

Meu sonho era ser um violonista de choro, me amarrava nos bordões, mas, por conta de limitação técnica, comecei a procurar minha própria onda, um modo de continuar tocando. Apesar de gostar muito desta tradição do violão brasileiro, foi nos trabalhos afros do Baden Powell e nos violões de Dorival Caymmi, João Bosco, Jorge Ben, Rosinha de Valença e Gilberto Gil que pude vislumbrar uma maneira diferente de aplicar o instrumento ao formato canção.

Minha procura pelo violão sempre teve um caminho ligado à rítmica, principalmente na mão direita, que geralmente arpeja o instrumento ou faz os ataques. A ideia sempre foi tocar o violão como um instrumento de percussão. O que o violão do samba e do choro nos propõe, dividindo as cordas graves das cordas agudas, me ajudou muito em torno da visão mais polirrítmica.  Quase sempre, quando crio algo no violão, estão presentes as linhas de baixo e os contrapontos agudos.

A vivência na cena punk rock/hardcore paulista dos anos 90, no samba e nas atividades religiosas no Ilê Leuiwyato, dirigido pela sacerdotisa Iya Sandra Medeiros Epega, moldaram de alguma maneira esse violão que toco hoje, a música se procura também no chão que a gente percorre, nas pessoas, nas poeiras dos caminhos, não só no mundo artístico.

Rastilho é um disco de violão, nele o instrumento sobrepõe tudo, todas as vozes, todas as letras, quem canta é a madeira. (Por Kiko Dinucci)

São 10 canções fantásticas apenas com voz e violão!
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3 de fev. de 2020

Solidão

Pintura: Lesley Oldaker

Desesperança das desesperanças...
Última e triste luz de uma alma em treva...
— A vida é um sonho vão que a vida leva
Cheio de dores tristemente mansas.

— É mais belo o fulgor do céu que neva
Que os esplendores fortes das bonanças
Mais humano é o desejo que nos ceva
Que as gargalhadas claras das crianças.

Eu sigo o meu caminho incompreendido
Sem crença e sem amor, como um perdido
Na certeza cruel que nada importa.

Às vezes vem cantando um passarinho
Mas passa. E eu vou seguindo o meu caminho
Na tristeza sem fim de uma alma morta.´

(Vinícius de Moraes, Solidão, Rio de Janeiro 1933)