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24 de jul. de 2017

Casos de Corrida



Uma bando de pessoas formando fileiras antes do nascer do sol para serem atendidas no hospital local  com suas dores de nenhum corte ou suas dores de mil mortes, preocupações irracionais e fiscais com colchões de dormir e barracas, apreensivas pelo amanhã, cobertas com mantas finas da idade e despertas pelo medo de ficarem sós ou de morrerem logo, dos nós de garganta, a solidão em pleno sábado pós carnaval. 
O zunido e os miados de gatinhos abandonados em um matagal próximo ao ponto do ônibus, desesperados e esperançosos de que algum ser humano maravilhoso ou uma gatinha qualquer viesse encontrá-los, que pudessem salva-los das cobras que se achegam. A minha mulher encontrou-os. Trouxe-os para casa, mas, como é a vida: Nossos cachorros o mataram. Os nossos!
A briga dos valentões no trânsito, causando lentidão e preocupação das pacientes e compreensivas mulheres, que juntas, tentavam conter o clima de tensão no local e evitar uma briga de fracos homens cheios de músculos. A exigência da entrega total das armas e a rendição no banco do carro feito pelas duas as crianças de cada casal, que pediam para que os pais parassem e que só elas (e talvez a mãe) são capazes de tal milagre. Todo trânsito deveria ter uma mãe de guarda!
Uma mulher idosa caminha todo dia em frente a Praça Fontes em busca de que um homem faça aquilo que nenhum outro foi capaz nesta vida: Uma noite de amor com carinho. (Pensa como seria mais fácil se houvesse em gôndolas). Após adentrar no recinto do supermercado acaba comprando uma garrafa de rum e diz sozinha que este sim é de verdade.
A filha que cuidadosamente ajuda a mãe a caminhar como se estivesse levando e atravessando seu próprio coração, não entende como o pai foi capaz de deixa-las, abandoná-las, roubar a empresa e fugir com a amante.  - Melhor teria sido ele morrer, pensava a filha. A mãe, atormentada e inerte a falta de explicações, pensa: Será que ele volta para mim?
O homem anda com seu cachorro pela orla da praia, com seus dentes irremediavelmente brancos, óculos esportistas, tênis e vestimentas de corredor profissional e seu amigo da raça Labrador de cor caramelo a desfilar pela cidade maravilhosa e dar ao seu ego o mais bel prazer, de ver as primeiras mulheres levantarem os olhos, fixar seus sentidos, virar o rosto com charme, subir seus vestidos curtos ou alongados e entoar o mais profundo gozo e prazer adocicado: Que labrador bonito!


(Lelo Nardoiz)

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