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12 de out. de 2010

Toada para Sá


Foto: Leo Canaã - Quintal de casa. RB 2010

PS: Para o meu amor de quem estou com muitas saudades. Te amo. 


“Eu cuido de você com carinho

Escrevo um minutinho

Poesias pra te agradar

Rimo no diminutivo

Pra mais fácil e definitivo

Estes versos em teu coração chegar

Eu digo pra você que te amo todo dia

E te amo todo dia pra te provar

Gosto de ti deste jeito

E só eu sei o chamego e o gosto de te amar “

3 de out. de 2010

"Caminhando, tens a impressão de possuir asas e voar"
                                                                       (Gorki)
Foto: Leo Canaã - Chapada dos Guimarães. MT. Dezembro de 2008.

30 de set. de 2010

Mineiros respiram Beatles

( A inspiração desta canção foi uma capa do Jornal Estado de Minas no dia posterior da morte de George Harrison com o mesmo título tendo vários artistas de Minas e a influência do quarteto e de Harrison nas suas vidas. Como Beatlemaníaco e mineiro resolvi brincar um pouco...)


"Nossa Londres é Ouro Preto
Nossa estrada é de montanha
Nessas andanças e por essas ruas ciganas
Vejo-me em outro.
Nossa arte é pão de queijo
Nosso hino é liberdade
Nessas cachoeiras e por essas invernadas
Eu passeio.
Nossa rua não é Abbey Road
Nosso Rolls Royce é carro de boi na estrada
Nossa ilha de wright é Guarapari
Então eu bebo.
Nessas esquinas e por esses botecos
Só falo Né em “Belzonte”
O horizonte é mais distante e mais instigante
Eu faço um vôo rasteiro.
Nossa pele é de lobo Guará
Às três horas não bebo chá
Nossas meninas têm sorrisos verdadeiros
Nossa desconfiança é espelho
Mineiros respiram Beatles
Não temos Sargentos
Nem marketing para transformar um sinal
Em referência turística
Nem a emoção da época
Nem a palavra certa
Mas respiramos a fumaça da Maria Fumaça.
Nossa cadeira cativa é nosso jeito manso
Não temos submarino amarelo
Mas com 14 Bis sobrevoamos
Por de trás do monte
Nasce uma canção de amor" (Leo canaã)

1 de jul. de 2010

Noite em Ilha Bela

Ontem à noite
Caminhava sozinho
(por necessidade)
Ontem à noite
Caminhava sorrindo
(por cólera)
Ontem à noite
Descobria eu
A falta
O ramal fechado
Que nos leva ao deserto de nós
Onde só habita o eu, esse monstro e essa rosa
Mãe e pólvora
Terra do seio, do parto, do ventre, do meio, da luz, das trevas
Da TRANSFORMAÇÃO.
(Leo Canaã)

30 de jun. de 2010

Hoje Dia 23

" Hoje, só hoje
vejo o quanto vivi o ontem
fiquei preso ao amanhã
e só hoje, só hoje, vejo que não vivi
porque só hoje?
Hoje é fato
e olha meu amanhã:
estou numa cama, cercado de gente que me considera
atolado de sonhos velhos e quenturas mornas
pensando se a luz após o fim é como esta deste quarto de hospital
olha!
vivendo pela primeira vez o hoje
se contorcendo de dor que sinto hoje
comendo aquilo que tenho hoje
me preocupando com problemas apenas do hoje
amando pessoas que vejo hoje
o hoje é  intenso
Hoje me sinto vivendo pela primeira vez
e talvez seja o último dia
na folhinha marca dia 23"

O Haver

O HAVER
Vinícius de Moraes


Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
- Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

15/04/1962


A poesia acima foi extraída do livro "Jardim Noturno - Poemas Inéditos", Companhia das Letras - São Paulo, 1993, pág. 17.

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25 de jun. de 2010

A Morte da Onça



Um dia antes de chegar na comunidade Santa Ana na RESEX Extrativista Chico Mendes em Sena Madureira - Ac em Novembro de 2009, Raimundinho, morador do local, matou esta onça pintada. Ela estava andando próxima ao caminho por onde os alunos seguiam para chegar a escola e comeu dois porcos inteiros da família.

Quem vive no Acre:


Por uma das Viagens pelo Rio Yaco em Sena Madureira na RESEX Chico Mendes no final de 2009 encontrei estas pequenas figuras, muito tímidos e alegres.

4 de mai. de 2010

Hino Nacional Contemporâneo

Ouviram do Tietê as margens dos carros
De um povo sofrido e ambulante
E o sol da liberdade, em raios miúdos,
Brilhou para seis cabeças de gado nesse instante
Se a dor dessa verdade
Conseguimos não nos emocionar com pulso forte
Em teu beco, ó liberdade
Desafia a nossa vida a própria sorte!
O pátria saqueada,
Roubada.
Acorde! Acorde!
Brasil, um pesadelo vivo, uma barriga vazia.
De exploração e descaso a terra desce,
Se em teu formoso céu, ainda risonho límpido,
A imagem de chacinas resplandece
Gigante pelas suas terras e favelas
És belo, és passivo, impávido consolo
E o teu futuro não tem espelho
Terra castigada,
És tu Brasil,
Ó pátria amada
Dos filhos deste solo és patrão febril
Pátria da enxada, Brasil!

Jogado displicentemente as margens das cidades
Ao som de balas perdidas e corruptos
Fulguras, ó Brasil, florão da velha
Iluminado ao sol do triste mundo!
Do que a terra mais valia
Teus meninos sabem bem dos seus horrores
Nossas costas têm mais peso ainda
Nossa vida no teu seio mais temores
Ó pátria forjada,
Copiada,
Acorde! Acorde!
Brasil, de dor eterna seja mentira
O fato que ostentas escondido
E diga aos políticos sacanas
-jaz o futuro e escolta do passado.
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho te ama e não foge a luta
Mesmo sendo deixado lentamente a própria morte
Terra da charada
Entre poucas és única
Que deixas seus filhos na emboscada
Dos filhos deste solo és mulher de mil
Pátria dos Caminhoneiros, Brasil!